Presidente da ACISBEC dá entrevista para Agência de Notícias Espanhola EFE
Reportagem destaca o perfil político de São Bernardo e o posicionamento empresarial
A Agência de Notícias Espanhola, EFE, publicou no seu portal neste sábado, 26 de outubro, reportagem sobre a mudança de perfil político no ABC. Com o título Bolsonarismo ganha força nos bastiões históricos da esquerda brasileira, a reportagem traz o depoimento e posicionamento do presidente da ACISBEC, Valter Moura Júnior, sobre os aspectos políticos na cidade e no país. O repórter da Agência de Notícias Espanhola, EFE, Carlos Meneses fez a entrevista presencialmente. A equipe da Agência esteve na ACISBEC na terça-feira, 22 de outubro.
Acesse o link e veja a entrevista completa no site:
https://efe.com/mundo/2024-10-26/bolsonarismo-elecciones-municipales-brasil/
Bolsonarismo ganha força nos bastiões históricos da esquerda brasileira
Por Carlos Meneses |
São Bernardo do Campo (Brasil) (EFE).- Às vésperas do segundo turno das eleições municipais , a extrema direita liderada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro ganha espaço nos tradicionais bastiões da esquerda brasileira, como São Bernardo do Campo , política natal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
São Bernardo do Campo é quase um local de culto da esquerda brasileira. Sua meca é a sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC Paulista, dentro da qual estão grandes painéis de 'Che' Guevara, Gandhi, Frida Kahlo e do próprio Lula.
Nesta cidade de São Paulo, Lula, então um sindicalista experiente e barbudo que trabalhava como torno mecânico, liderou greves e manifestações em massa durante a ditadura militar (1964-1985).
Foi a semente do Partido dos Trabalhadores (PT), sigla hegemônica durante décadas no cinturão industrial paulista, até hoje. No domingo, dois candidatos da direita disputarão o segundo turno para prefeito de São Bernardo.
Um deles é o deputado Alex Manente, apoiado por Bolsonaro e que tem como companheiro de chapa Paulo Chuchu, policial e amigo da família do ex-chefe de Estado. O candidato de Lula, Luiz Fernando Teixeira, ficou em terceiro lugar.
Mais paroquianos, menos sindicatos
A esquerda brasileira deixou de fazer algo essencial: trabalho de base, diálogo. Antes, nas favelas, quando uma família tinha dificuldades, procurava alguém de esquerda; Hoje ele procura o pastor, explica Moisés Selerges, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, à EFE.
As igrejas evangélicas são um dos pilares do bolsonarismo e têm ganhado visibilidade em todos os cantos do país. Até nas aldeias mais precárias da Amazônia existem templos evangélicos.
Isto se ajusta à curva de encolhimento dos sindicatos. Segundo dados oficiais, em 2023 apenas oito por cento dos trabalhadores estavam sindicalizados, a percentagem mais baixa desde 2012, quando atingiu dezesseis por cento.
Para tentar travar este cenário, Selerges lançou o projeto La Retomada, para recuperar o contacto com as bases, devolver protagonismo ao sindicato dialogando com todos os atores sociais, incluindo a direita moderada, e renovar-se.
Precisamos formar líderes. Os jovens devem ser colocados à frente do partido porque hoje existe uma direita popular que antes não existia. A direita hoje está na favela, na fábrica, analisa.
A direita avança no nordeste da esquerda brasileira
O colapso da esquerda em São Bernardo se repetiu em outras cidades do cinturão industrial paulista, antigo cinturão vermelho, que também perdeu o importante peso econômico de antigamente.
Um fenómeno semelhante, embora ainda incipiente, está a ocorrer em algumas das grandes cidades do empobrecido nordeste brasileiro, principal fonte de votos do PT e onde a direita está a avançar.
Bolsonaro, desqualificado por deslegitimar a democracia, e seu Partido Liberal (PL) conseguiram colocar mais candidatos no segundo turno das eleições nas capitais nordestinas do que o PT de Lula.
O PL foi muito bem estruturado para as eleições, com estratégias bem definidas, candidaturas competitivas e muito investimento, disse à EFE a cientista política Luciana Santana, professora da Universidade Federal de Alagoas, estado em cuja capital, Maceió , foi eleito primeiro. O candidato de Bolsonaro retorna com 83% dos votos.
O discurso esquerdista brasileiro perdeu força
Para Valter Moura Júnior, presidente da Associação Comercial e Industrial de São Bernardo do Campo, o declínio do PT se deve ao fato de ele ter se tornado um partido igual aos demais.
O discurso da esquerda perdeu muita força, é muito parecido com o do centro, disse à EFE.
Seu pai foi um dos empresários mais importantes da região. Teve papel muito importante na formação de São Bernardo, atuando na construção civil, e foi fundamental na construção da associação patronal, que hoje conta com 2.000 associados.
Moura Júnior lembra que o sindicalismo de São Bernardo era um dos mais temidos de todo o Brasil, mas acredita que isso mudou desde a globalização.
Ao mesmo tempo, os trabalhadores perderam a capacidade de mobilização devido ao medo de ficarem desempregados, num contexto em que a terceirização avança, segundo Moura Júnior.